Neste 4º Domingo de Páscoa, às 9h (pelo horário de Roma), o Papa Bento XVI
presidiu a Santa Missa, na Basílica Vaticana, na qual foram ordenados nove
diáconos dos seminários diocesanos romanos. Entre eles, oito se tornaram
sacerdotes da Diocese de Roma, e um, formado no Almo Colégio Caprinica, foi
ordenado para a Diocese de Bui Chu, no Vietnã.
Em sua homilia, o Papa
destacou que este é o domingo do Bom Pastor, primeira característica do
sacerdote: “O bom pastor dá a própria vida pelas ovelhas” (Jo 10,11).
Confira na íntegra a homília do Santo Padre:
Venerados irmãos,
Queridos ordenados,
Queridos irmãos e
irmãs!
A tradição romana de celebrar as Ordenações sacerdotais neste
4º Domingo de Páscoa, o domingo “do Bom Pastor”, contém uma
grande riqueza de significado, ligada à convergência entre a Palavra de
Deus, o Rito Litúrgico e o Tempo pascal no qual se coloca. Em
particular, a figura do pastor, assim relevante na Sagrada Escritura e
naturalmente muito importante para a definição do sacerdote, adquire sua plena
verdade e clareza sobre o vulto de Cristo, na luz do Mistério de sua morte e
ressurreição. Desta riqueza também vocês, queridos ordenados, podem sempre
recorrer, todos os dias de suas vidas, e assim o sacerdócio de vocês será
continuamente renovado.
Este ano, o lema evangélico é aquele central do
capítulo 10 de João e inicia justamente com a afirmação de Jesus: “Eu sou o bom
pastor”, na qual aparece logo a primeira característica fundamental: “O
bom pastor dá a própria vida pelas ovelhas” (Jo 10,11). Vejam: aqui nós
somos imediatamente conduzidos ao centro, ao clímax da revelação de Deus como
pastor de seu povo. Este centro e clímax é Jesus, precisamente Jesus que morre
sobre a cruz e deixa o sepulcro no terceiro dia, ressurge com toda sua
humanidade e, deste modo, nos envolve, cada homem, na sua passagem da morte para
a vida. Este evento – a Páscoa de Cristo – no qual se realiza plenamente e
definitivamente a obra pastoral de Deus é um evento sacrifical: Assim, o
Bom Pastor e Sumo Sacerdote coincidem na pessoa de Jesus que deu sua vida por
nós.
Mas observemos brevemente também as primeiras duas Leituras
e o Salmo Responsorial (Sal 118). A passagem dos Atos dos Apóstolos (4,8-12) nos
apresenta o testemunho de São Pedro diante dos chefes dos povos e dos anciãos de
Jerusalém, depois da cura prodigiosa do coxo. Pedro afirma com grande franqueza
que “Jesus é a pedra, que foi rejeitada por vós, construtores, e que se
tornou a pedra angular”; e acrescenta: “Em nenhum outro há
salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual
devemos ser salvos” (vv. 11-12).
O Apóstolo interpreta depois
sob a luz do mistério pascal de Cristo o Salmo 118, no qual o orador dá graças a
Deus que responde ao seu grito de socorro e o resgata. Este Salmo diz: “A pedra
que os construtores rejeitaram se tornou a pedra angular. Isto foi feito pelo
Senhor: uma maravilha aos nossos olhos” (Sal 118,22-23).
Jesus viveu
justamente esta experiência: de ser descartado pelos chefes de seu povo e
reabilitado por Deus, colocado como fundamento de um novo tempo, de um novo povo
que dará graças ao Senhor com tantos frutos de justiça (cfr Mt 21,42-43). Então,
a primeira Leitura e o Salmo Responsorial, que é o próprio Salmo 118, remetem
fortemente ao contexto pascal, e esta imagem da pedra rejeitada e restaurada
leva nosso olhar sobre Jesus, que morreu e ressuscitou.
A segunda Leitura
trata-se da Primeira Carta de João (3,1-2), ela nos
fala, em vez, do fruto da Páscoa de Cristo: nós que nos tornamos filhos
de Deus. Nas palavras de João se sente ainda toda a admiração por este dom:
não somente somos chamados filhos de Deus, mas agora “somos realmente”
(v. 1).
Em efeitos, a condição final de homem é fruto da obra
santificadora de Jesus: com a encarnação, com sua morte e ressurreição e com o
dom do Espírito Santo, Ele inseriu o homem dentro de uma relação nova com Deus,
sua própria relação com o Pai. Por isso, Jesus ressuscitado diz: “Não me
detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e
dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo
20,17). É uma relação já plenamente real, mas que não é ainda plenamente
manifestada: assim será no fim, quando – se Deus quiser – poderemos ver Seu
vulto sem véus (cfr v. 2).
Queridos Ordenados, é lá que nos quer conduzir
o Bom Pastor! É lá que o sacerdote é chamado a conduzir os fiéis a ele
confiados: para a vida verdadeira, a vida “em abundância” (Jo 10,10). Voltemos
ao Evangelho, e à Parábola do pastor. “O bom pastor dá a própria vida pelas
ovelhas” (Jo 10,11). Jesus insiste sobre esta característica essencial
do verdadeiro pastor que é Ele próprio: aquela de “dar a própria vida”.
Repete isso três vezes, e por fim conclui dizendo: “O Pai me ama, porque dou a
minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e
tenho o poder de reassumi-la. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” (Jo
10,17-18). Esta é claramente a característica que qualifica o pastor assim como
Jesus a interpreta em primeira pessoa, segundo a vontade do Pai que o enviou.
A figura bíblica do pastor, que compreende principalmente o dever de
reger o povo de Deus, de mantê-lo unido e guiá-lo, toda essa função régia se
realiza plenamente em Jesus Cristo na dimensão sacrificante, na oferta da vida.
Realiza-se, em uma palavra, o mistério da Cruz, isto é, no
supremo ato de humildade e de amor sacrifical. O abate Teodoro de Studium diz:
“Por meio da cruz, nós, ovelhas de Cristo, reunimo-nos num só rebanho e somos
conduzidos para as moradas eternas” (Discurso sobre a adoração da cruz: PG 99,
699).
Nesta prospectiva, as formas de Rito de Ordenação dos Presbíteros
são orientadas, como a que estamos celebrando. Por exemplo, entre as perguntas
que estão relacionadas aos “empenhos dos eleitos”, a última, que tem um caráter
culminante e no qual de modo sintético diz assim: “Vocês querem ser sempre mais
estreitamente unidos a Cristo, Sumo Sacerdote, que como vítima pura se ofereceu
ao Pai por nós, consagrando vocês mesmo a Deus, junto a Ele para a salvação de
todos os homens?”
O sacerdote é, de fato, aquele que vem inserido
de um modo singular no mistério de Sacrifício de Cristo, com uma união pessoal a
Ele, para prolongar Sua missão santificadora. Esta união, que vem
graças ao Sacramento da Ordenação, pede que se torne “sempre mais estreita” pela
generosa correspondência do próprio sacerdote.
Por isso, queridos
Ordenados, logo vocês responderão esse pergunta dizendo: “Sim, com a ajuda de
Deus, eu quero”. Sucessivamente, nos Ritos explicativos, no momento de unção
crismal, o celebrante diz: “O Senhor Jesus Cristo, que o Pai consagrou em
Espírito Santo e poder, mantenha-o para a santificação de Seu povo e para a
oferta do sacrifício”. E depois, na consagração do pão e do vinho: “Receba as
ofertas do povo santo para o sacrifício eucarístico. Saibam que aquilo que
fazem, imita aquilo que celebram, conforme sua vida no mistério da cruz de
Cristo Senhor”.
Destaca-se fortemente que, para o sacerdote, celebrar
cada dia a Santa Missa não significa desenvolver uma função ritual, mas compete
uma missão que envolve inteiramente e profundamente a existência, em comunhão
com Cristo ressuscitado que, em Sua Igreja, continua a atuar o Sacrifício
redentor.
Esta dimensão eucarística-sacrificadora é inseparável
daquela pastoral e também constitui o núcleo de verdade e de força salvadora, na
qual depende a eficácia de cada atividade. Naturalmente, não falamos da eficácia
somente sobre o plano psicológico ou social, mas da fecundidade vital da
presença de Deus a nível humano profundo.
A própria
pregação, as obras, os gestos de vários gêneros que a Igreja realiza com suas
múltiplas iniciativas, perderiam sua fecundidade salvadora se não fosse
celebrado o Sacrifício de Cristo. E isto é confiado aos sacerdotes
ordenados. De fato, o presbítero é chamado a viver em si mesmo o que
experimentou Jesus em primeira pessoa, isto é, dando-se plenamente à pregação e
a cura do homem sobre todo mal do corpo e do espírito. E, depois, em fim,
reassumir tudo no gesto supremo de “dar a vida” pelos homens, gesto que encontra
sua expressão sacramental na Eucaristia, memorial perpétuo da Páscoa de Jesus.
É somente através desta “porta” de Sacrifício pascal que os
homens e as mulheres de todos os tempos e lugares podem entrar na vida eterna; é
através desta “via santa” que podemos cumprir com êxodo o caminho para a “terra
prometida” da verdadeira liberdade, aos “pastos verdejantes” da paz e da alegria
sem fim (cfr Jo 10,7.9; Sal 77,14.20-21; Sal 23,2).
Queridos
Ordenados, que esta Palavra de Deus ilumine a vida de vocês. E quanto o
peso da cruz se tornar pesado, saibam que esta é a hora mais preciosa, para
vocês e para as pessoas a vocês confiadas: renovando com fé e com amor o vosso
“sim, com a ajuda de Deus eu quero”, vocês cooperaram com Cristo, Sumo Sacerdote
e Bom Pastor, no apascentamento de suas ovelhas – talvez a única coisa que lhes
foi pedido, mas para o qual se faz grande festa no Céu! Que a Virgem
Maria, Salus Populi Romani, vele sempre por cada um de vocês e por seus
caminhos. Amém.

Fonte: Canção Nova